Reprodução: Jornal da Tarde
Paulo Favero
O santista Luiz Fernando de Palma estava revoltado
quarta-feira no Pacaembu. “Paguei R$ 250 pelo ingresso e o estádio não tem
banheiro. Isso é uma vergonha. E ainda querem fazer a Copa no Brasil…” Ele
comprou o bilhete para o setor mais caro, mas as filas nos banheiros químicos
inviabilizaram qualquer tentativa de esvaziar a bexiga no intervalo. Esta é a
realidade brasileira: ingressos cada vez mais caros, e estádios cada vez mais
precários. O caso do Pacaembu não é isolado. Em todos os lugares os torcedores
encontram péssimas condições e pagam preços exorbitantes para acompanhar um
esporte tão popular.
O próprio IBGE já havia mostrado como ver futebol ao vivo
ficou muito mais caro. De 2004 para cá, enquanto a inflação oficial (IPCA) foi
de 47,97%, os ingressos para jogo de futebol aumentaram 152,06%. Como a CBF não
define um preço mínimo, segundo o próprio regulamento da competição, cada clube
cobra quanto acha que deve.
“Houve um aumento exorbitante dos ingressos nos últimos
cinco anos. No Rio a arquibancada passou de R$ 15 para R$ 30 em um ano e depois
foi para R$ 40. Nas finais do Estadual, custava R$ 60. Isso é um preço que só
as classes A e B podem pagar. Eu mesmo deixei de ir à final porque gastaria R$
120 com o meu ingresso e do meu filho. É a primeira vez que deixo de ir a um
jogo do Flamengo por causa do preço dos ingressos”, conta Marcos Alvito,
professor universitário e da diretoria da Associação Nacional dos Torcedores.
Em todas as regiões houve um aumento grande no preço dos
ingressos. No último Brasileirão, o Corinthians teve o maior preço médio, com
R$ 32,77. Um pouco abaixo do que foi cobrado pelo Palmeiras em 2009: R$ 35,31,
o recorde até agora. Já o Flu aproveitou sua arrancada vitoriosa ano passado
para encher os cofres: uma média de R$ 25,32, mais do que o dobro do que havia
sido cobrado pelo clube no ano anterior. Até o Bahia, que costuma encher o
estádio em suas partidas, se aproveitou da boa fase ano passado para aumentar
os ingressos. Nos últimos sete anos, a variação foi de 211%.
Mário Celso Petraglia, ex-presidente do Atlético-PR, foi
responsável pelas mudanças no clube bem antes de este processo se iniciar no
Brasil. “Paguei um preço alto pelo pioneirismo. Melhoramos a qualidade da Arena
da Baixada a partir de 99, e entendemos naquele momento que os preços teriam de
ser equivalentes a essa melhoria. Inicialmente foi a R$ 30, houve reclamação
geral, torcedores foram para o Procon e acabamos dando uma recuada.” Mas hoje o
clube achou um equilíbrio, principalmente pela grande quantidade de sócios que
possui (22 mil). Assim, o preço do ingresso é mais baixo do que o cobrado por
outros clubes.
O caso do Figueirense é semelhante. O clube tem entre os 20
times da primeira divisão o ingresso mais barato. Tem 13 mil sócios, e um
estádio com capacidade de 19,5 mil torcedores. Renan Dal Zotto, diretor de
marketing do Figueira, orgulha-se do fato. “Nossa média do Estadual foi a maior
do campeonato, com quase 10 mil pessoas por partida. Queremos sempre ter a casa
cheia. Acho que é preciso ter um bom espetáculo, mas o preço tem de ser
condizente e razoável. Não queremos, em um momento de dificuldade, ter de
baixar o preço para atrair público.”
Público cresce no sofá
O número de vendas do pacote de pay-per-view, que
possibilita assistir a todas as partidas do Brasileirão ao vivo, cresce a cada
ano. Quase um milhão de torcedores já fez a assinatura (eram 993 mil até o fim
de abril), ao valor mínimo de R$ 58,20 por mês. Em 2008, o preço era R$ 48,80.
Mesmo com o aumento de 19% no período, as assinaturas não param de aumentar.
Para Marcos Alvito, os preços mais caros de ingressos nos
estádios servem para afugentar os torcedores para o sofá de casa. “Até 2014
ocorrerá uma verdadeira expulsão dos estádios dos membros das camadas mais
humildes, exatamente o grupo que forneceu os maiores jogadores para o nosso
futebol. A eles restará apenas assistir ao futebol pela televisão.”
Mário Celso Petraglia acha que a situação se encaminha mesmo
para um ingresso mais caro. “O caminho é o preço do espetáculo ao vivo ser bem
mais caro que o do pacote de televisão após a Copa do Mundo de 2014.”
(colaborou Thaís Pinheiro)
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